sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Só há um rio em mim, meu amor (poemas do mar)

Só há um rio em mim, meu amor
(poemas do mar)


Só há um rio
em mim
meu amor.
Só há o Tejo.

Só há este,
o rio sem nascente
nem foz
quase sem margens.

O rio
que se estende
imenso
além e riba
Portugal.

Só há um rio
em mim
meu amor.
Só há o Tejo.

E uma canoa
arrastando a vela
pela rasante da lezíria
até Lisboa.

E um cacilheiro
de gente a transbordar
entre duas margens
e um voo de gaivota.

E uma traineira
e o mestre deste rio,
desaguando em Lisboa
um Tejo aqui, já quase mar.

Só há um rio
em mim
meu amor,
Só há o Tejo.


AntónioFMartins

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Amor com amor se apaga (Poemas acerca de tudo)

Amor com amor se apaga
(Poemas acerca de tudo)



Não me dês mais amor, amor,
que eu não quero, eu não mereço
este amor que me dás e que apago
como se apaga entre os dedos
a chama frágil duma vela.

Não me dês mais amor, amor,
que eu não quero, eu não mereço.
Que eu sou como um braseiro
ardendo brando no meu peito
apagado nas chamas da memória.

Não me dês mais amor, amor,
que eu não quero, eu não mereço
que me ames, que me pagues
com amor este amor que não existe
este amor que com amor se apaga.

Não me dês mais amor, amor,
que eu não quero amor de ti,
que eu não quero, eu não mereço
que me pagues com amor
este amor que com amor se apaga.



AntónioFMartins

Às vezes, a meio da noite (Poemas da guerra)


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Ó asas dos meus sonhos (Poemas acerca de tudo)

Ó asas dos meus sonhos
(Poemas acerca de tudo)



Povoais os meu sonhos noite a noite
adormecendo agarradas nos meus sonos,
ó asas de todos os ventos que eu conheço,
que daqui me arrastais, da terra ao céu,
e do céu ao infinito do tudo em mim,
já fora do longe do meu próprio infinito.


Arrastai-me ó asas, sem destino, como um louco
na loucura das viajadas sombras siderais,
e envolvei-me todo de longínqua negrura iluminada
como um menino cósmico apontando da Terra uma estrela,
a mais viva e trémula de todas as estrelas
que, encravada na noite e na distância ou, talvez,
na ponta do seu próprio dedo de criança
me leve para me trazer de novo dos meus sonhos.
Os sonhos, ó asas, que me povoais, noite a noite.


AntónioFMartins



sábado, 5 de dezembro de 2015

Alma de mar (Poemas do mar)

Alma de mar
(Poemas do mar)



Um poeta deitou-se ao mar
e mergulhou na iluminada escuridão
a procurar a alma.
Talvez o destino.

Um poeta subiu do profundo mar
envolto em corais e espuma branca
abraçado a um peixe colorido
agarrando a alma pela boca.

Um poeta encontrou a alma
no fundo do mar.


AntónioFMartins

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Vem comigo, Paco (Poemas acerca de tudo)

Vem comigo, Paco
(Poemas acerca de tudo)

(Ao nosso povo, aos Conjurados Restauradores da independência)



Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Vem ver a minha cidade,
o meu país na foz do nosso Tejo,
e um povo todo levantado nesta praça
onde, plena, desemboca a Liberdade.

Aqui, onde vão já esquecidos os ventos quentes
de Alcácer-Quibir, soprados das densas neblinas
das memórias de uma pátria então viúva
e de um Rei trancado nas miragens,
sempre tão distantes, sempre tão perto,
sempre tão aqui  presentes em cada um de nós,
todos os dias imaginando D. Sebastião,
o Rei que em 1578 nos faltou ao reino,
entrando-nos, vindo de sul do Atlântico mar, 
Tejo a cima, navegando até Lisboa.

Mas não, não voltou D. Sebastião.

Nunca voltou D. Sebastião
e então, um reino abandonado
abandonou-se a si mesmo,
dilacerado, ali em terras de Tomar,
nas Cortes da ignomínia, de 1581.
E nunca mais voltou Portugal a Portugal,
num desespero de sessenta anos.
Os sessenta anos mais negros
da memória da minha pátria, Paco.
E não é os teus que eu mais culpo.
É aquela gente, gente da minha gente,
os traidores que, como hoje por aí voltam
e que, como em renovadas Cortes de vergonha
dia a dia nos vendem, nos entregam
e nos tiram até um primeiro de Dezembro
que é da pátria o dia sagrado da pátria restaurada.
Mas, Paco, como outrora, não nos vergaram.
Porque nunca os traidores nos vergarão.

Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar 
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
E talvez no final deste caminho
eu te mostre, ainda, a minha gente
entre os Conjurados no Paço da Ribeira
exultando Portugal reconquistado
e uma Duquesa de Mântua apavorada,
olhando o merecido destino dos traidores
num Vasconcelos ali defenestrado.

Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Olha o meu povo, esta gente de 1143
e sente aqui os Restauradores de 1640,
e um Portugal que aqui nasceu já imortal 
porque ao nascer, logo aqui se fez inteiro.
Aqui vês uma pátria que caída se ergueu, sempre mais forte
e vê como Castela se fez à força toda a Espanha 
numa Espanha que de Castela hoje se aparta.

E Portugal, Paco, é ainda o Portugal que sempre foi.

Olha, Paco, a minha gente livre,
olha a minha pátria restaurada, Portugal aqui!
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar 
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!


AntónioFMartins





domingo, 29 de novembro de 2015

Entre os meus rios (Poemas acerca de tudo)

Entre os meus rios
(Poemas acerca de tudo)


Não te deixes só aqui,
rabelo,
ancorado nas ondas
deste Douro,
neste Porto tão bonito.
Sai a foz
e vem comigo,
ver a minha cidade,
Atlântico a baixo
rumo ao sul
e leva-me ao Tejo
que eu prometo-te,
numa qualquer volta
das atlânticas marés,
fazer de ti uma fragata
e trocar a tua vela quadrada
pela latina de Lisboa
a navegar contigo
na proa da saudade,
a bordejar Douro a cima
nas águas calmas
do meu Tejo.


AntónioFMartins

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

Era Paris, 13 de Novembro de 2015


Era Paris, 13 de Novembro de 2015


Era Paris
mas então foi Lisboa,
Amesterdão, Berlim
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
onde o lugar era
a cidade e a gente
e da gente a igualdade.

Era Paris
mas então foi Lisboa,
Bruxelas, Londres
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
numa cidade feita Europa
onde era gente a gente
e a gente fraternidade.

Era Paris
mas então foi Lisboa,
Roma, Madrid
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
onde a noite se fez gente
e a gente se fez sangue
e de cada corpo estilhaçado
brotou correndo a liberdade!



AntónioFMartins