domingo, 31 de janeiro de 2016

Miklos Fehér (Poemas acerca de tudo)

Miklos Fehér
20-07-1979 / 25-01-2004
(Poemas acerca de tudo)


Era Janeiro,
frio
e tu sorriste.

Um sorriso lindo.

E então foi tudo
o final em ti.

Um sorriso lindo
de menino
e foste.

Um menino ainda,
como um qualquer menino,
sorrindo
de sorriso grande
de dentro
de idade
tão pouca.

É Janeiro,
frio
e tu ainda sorris.


António F. Martins

sábado, 30 de janeiro de 2016

Azul (Poemas acerca de tudo)

Azul
(Poemas acerca de tudo)



Um pedaço
azul
do céu
pintou
de azul
a esquina azul
da parede
do meu quarto.

Escorreu,
escorreu
parede a baixo
pela parede
do meu quarto
até ao chão
no fundo
da parede
do meu quarto.

De azul.
Azul.

Porque me falas, amor
do arco-íris?


António F. Martins

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Afoga-me no mar de afagos (Poemas do mar)

Afoga-me no mar de afagos
(Poemas do mar)


Não te rales,
afoga-me no mar
dos teus sentidos
que eu respiro
pelos dedos
dos meus olhos
e eu vejo mais mar
que todo o mar
que há em ti.

Toco-te e respiro,
olho-te e vivo
e faço-me de morto
quando me prendes
nos teus braços.
E os meus dedos
e o teu corpo
a fugir deles
e neles querendo ficar.

E eu em ti,
onda a onda,
descendo ao fundo
do teu corpo
e nele ficando,
quase perdido em ti
quase em ti morrendo,
afogado nesse teu mar
de afagos.


AntónioFMartins


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


O candidato que queria ser Presidente (Poemas acerca de tudo)

(Na entrevista colectiva (RTP1, 20 Janeiro 2016) aos candidatos à Pesidência da República, um dos entrevistadores fez reparo directo a Vitorino Silva (Tino de Rãs), pelo facto de este ser o único sem gravata...)



O candidato que queria ser Presidente
(Poemas acerca de tudo)



Não vem de fato?
Nem traz gravata,
senhor candidato?

E quer ele ser Presidente...

O candidato
é bem amanhado
bem educado,
de boas maneiras
e de boas falas,
sempre de fato,
camisinha branca,
colarinho escanchado
e gravata à cor,
bem apertada.
É mesmo assim.

Não vem de fato?
Nem traz gravata,
senhor candidato?

E quer ele ser Presidente...

O candidato fala e refala,
promete e não mete
a viola no saco
mesmo se a treta
cheira a banhada
e o freguês não aguenta
ele fala e refala
diz e rediz,
promete que cumpre
as promessas que faz
e promete até, que se for capaz
cumpre as dos outros também.

Não vem de fato?
Nem traz gravata,
senhor candidato?

E quer ele ser presidente...


E abraça e abraça
e beija e rebeija e aperta
a tarraxa da sua laracha
e grita e sussurra
e faz de nós gente burra
ele é velho é novo, é homem, mulher
ele é sempre o melhor candidato
que Diabo é só mais um voto que ele quer

Anda cá ó Zé, vem ver
é mais um, é mais um
que quer ser candidato.
Vê lá como ele é,
não traz gravata
nem  vem de fato.

E quer ele ser Presidente...



AntónioFMartins

22 Janeiro 2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Na tua Praça da Canção (Poemas acerca de tudo)

Na tua Praça da Canção
(Poemas acerca de tudo)
Com um abraço de gratidão, do fundo da memória, ao Manuel Alegre, nos 50 anos da primeira edição do livro "A Praça da Canção"


Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui, no centro de todas as cidades
onde moram, imortais, os poetas de Maio,
aqui, entre a morte e o crescimento das giestas.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui nesta cidade que é Lisboa
sempre à espera do amigo, irmão tão breve
voltando da guerra Tejo acima, sobre as águas
em que escreveste com ternura , dor e mágoa
os nomes todos dos teus mortos amados,
um a um guardados no fundo da memória.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui  em cada rua onde já não passa o teu amigo
e lembro ainda as flores de Maio saindo dos sorrisos
e um cigarro num cigarro apagado nas cinzas da memória
numa qualquer avenida plena de gente e liberdade
cantando a cada porta os mortos amados e o poema.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

É aqui que eu moro ainda e é aqui que, um a um
ainda me dou inteiro aos graves Maios,
imaginando sempre um sorriso florindo em lágrimas
e os cravos todos de Abril como cristais, em Maio,
partindo-se plangentes no fundo de mim.
Aqui eu vejo ainda o teu amigo trazendo no sorriso
a flor do mês de Maio e o seu retrato em cada rua,
pendurado no fundo da memória ainda perturbada,
pela cidade e pelas ruas onde agora já não passa,
nestas ruas onde começa a mágoa e a poesia toda.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

No coração dos poetas aqui poisados sobre o tempo,
sobre o poema e a ausência, nesta Lisboa sempre à espera.
Nesta Lisboa talvez esperando mês a mês o mês de Maio.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui, por dentro das cidades da cidade.
Aqui, por dentro das cidades onde moram os poetas,
ou numa qualquer cidade onde haja uma praça
e de onde saiam, planas e plenas a canção e a Liberdade.
Nesta cidade sempre à espera do teu amigo.
Aqui, nesta Lisboa como canção com lágrimas.
Eu moro aqui, Alegre. Ainda.


AntonioFMartins