Na tua Praça da
Canção
(Poemas acerca de tudo)
Com um abraço de gratidão, do fundo da memória, ao Manuel Alegre, nos 50 anos da primeira edição do livro "A Praça da Canção"
Eu moro ainda,
Alegre,
na tua Praça da
Canção.
Aqui, no centro
de todas as cidades
onde moram,
imortais, os poetas de Maio,
aqui, entre a
morte e o crescimento das giestas.
Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da
Canção.
Aqui nesta
cidade que é Lisboa
sempre à espera
do amigo, irmão tão breve
voltando da
guerra Tejo acima, sobre as águas
em que escreveste
com ternura , dor e mágoa
os nomes todos dos
teus mortos amados,
um a um guardados
no fundo da memória.
Eu moro ainda,
Alegre,
na tua Praça da
Canção.
Aqui em cada rua onde já não passa o teu amigo
e lembro ainda
as flores de Maio saindo dos sorrisos
e um cigarro num
cigarro apagado nas cinzas da memória
numa qualquer avenida
plena de gente e liberdade
cantando a cada
porta os mortos amados e o poema.
Eu moro ainda,
Alegre,
na tua Praça da
Canção.
É aqui que eu
moro ainda e é aqui que, um a um
ainda me dou
inteiro aos graves Maios,
imaginando
sempre um sorriso florindo em lágrimas
e os cravos todos
de Abril como cristais, em Maio,
partindo-se
plangentes no fundo de mim.
Aqui eu vejo
ainda o teu amigo trazendo no sorriso
a flor do mês de
Maio e o seu retrato em cada rua,
pendurado no
fundo da memória ainda perturbada,
pela cidade e
pelas ruas onde agora já não passa,
nestas ruas onde
começa a mágoa e a poesia toda.
Eu moro ainda,
Alegre,
na tua Praça da
Canção.
No coração dos
poetas aqui poisados sobre o tempo,
sobre o poema e
a ausência, nesta Lisboa sempre à espera.
Nesta Lisboa
talvez esperando mês a mês o mês de Maio.
Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da
Canção.
Aqui, por dentro
das cidades da cidade.
Aqui, por dentro
das cidades onde moram os poetas,
ou numa qualquer
cidade onde haja uma praça
e de onde saiam,
planas e plenas a canção e a Liberdade.
Nesta cidade
sempre à espera do teu amigo.
Aqui, nesta
Lisboa como canção com lágrimas.
Eu moro aqui,
Alegre. Ainda.
AntonioFMartins
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