quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Na tua Praça da Canção (Poemas acerca de tudo)

Na tua Praça da Canção
(Poemas acerca de tudo)
Com um abraço de gratidão, do fundo da memória, ao Manuel Alegre, nos 50 anos da primeira edição do livro "A Praça da Canção"


Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui, no centro de todas as cidades
onde moram, imortais, os poetas de Maio,
aqui, entre a morte e o crescimento das giestas.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui nesta cidade que é Lisboa
sempre à espera do amigo, irmão tão breve
voltando da guerra Tejo acima, sobre as águas
em que escreveste com ternura , dor e mágoa
os nomes todos dos teus mortos amados,
um a um guardados no fundo da memória.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui  em cada rua onde já não passa o teu amigo
e lembro ainda as flores de Maio saindo dos sorrisos
e um cigarro num cigarro apagado nas cinzas da memória
numa qualquer avenida plena de gente e liberdade
cantando a cada porta os mortos amados e o poema.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

É aqui que eu moro ainda e é aqui que, um a um
ainda me dou inteiro aos graves Maios,
imaginando sempre um sorriso florindo em lágrimas
e os cravos todos de Abril como cristais, em Maio,
partindo-se plangentes no fundo de mim.
Aqui eu vejo ainda o teu amigo trazendo no sorriso
a flor do mês de Maio e o seu retrato em cada rua,
pendurado no fundo da memória ainda perturbada,
pela cidade e pelas ruas onde agora já não passa,
nestas ruas onde começa a mágoa e a poesia toda.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

No coração dos poetas aqui poisados sobre o tempo,
sobre o poema e a ausência, nesta Lisboa sempre à espera.
Nesta Lisboa talvez esperando mês a mês o mês de Maio.

Eu moro ainda, Alegre,
na tua Praça da Canção.

Aqui, por dentro das cidades da cidade.
Aqui, por dentro das cidades onde moram os poetas,
ou numa qualquer cidade onde haja uma praça
e de onde saiam, planas e plenas a canção e a Liberdade.
Nesta cidade sempre à espera do teu amigo.
Aqui, nesta Lisboa como canção com lágrimas.
Eu moro aqui, Alegre. Ainda.


AntonioFMartins

Sem comentários: