Vem comigo, Paco
(Poemas acerca de tudo)
(Ao nosso povo, aos Conjurados Restauradores da independência)
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Vem ver a minha cidade,
o meu país na foz do nosso Tejo,
e um povo todo levantado nesta praça
onde, plena, desemboca a Liberdade.
Aqui, onde vão já esquecidos os ventos quentes
de Alcácer-Quibir, soprados das densas neblinas
das memórias de uma pátria então viúva
e de um Rei trancado nas miragens,
sempre tão distantes, sempre tão perto,
sempre tão aqui presentes em cada um de nós,
todos os dias imaginando D. Sebastião,
o Rei que em 1578 nos faltou ao reino,
entrando-nos, vindo de sul do Atlântico mar,
Tejo a cima, navegando até Lisboa.
Mas não, não voltou D. Sebastião.
Nunca voltou D. Sebastião
e então, um reino abandonado
abandonou-se a si mesmo,
dilacerado, ali em terras de Tomar,
nas Cortes da ignomínia, de 1581.
E nunca mais voltou Portugal a Portugal,
num desespero de sessenta anos.
Os sessenta anos mais negros
da memória da minha pátria, Paco.
E não é os teus que eu mais culpo.
É aquela gente, gente da minha gente,
os traidores que, como hoje por aí voltam
e que, como em renovadas Cortes de vergonha
dia a dia nos vendem, nos entregam
e nos tiram até um primeiro de Dezembro
que é da pátria o dia sagrado da pátria restaurada.
Mas, Paco, como outrora, não nos vergaram.
Porque nunca os traidores nos vergarão.
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
E talvez no final deste caminho
eu te mostre, ainda, a minha gente
entre os Conjurados no Paço da Ribeira
exultando Portugal reconquistado
e uma Duquesa de Mântua apavorada,
olhando o merecido destino dos traidores
num Vasconcelos ali defenestrado.
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Olha o meu povo, esta gente de 1143
e sente aqui os Restauradores de 1640,
e um Portugal que aqui nasceu já imortal
porque ao nascer, logo aqui se fez inteiro.
Aqui vês uma pátria que caída se ergueu, sempre mais forte
e vê como Castela se fez à força toda a Espanha
numa Espanha que de Castela hoje se aparta.
E Portugal, Paco, é ainda o Portugal que sempre foi.
Olha, Paco, a minha gente livre,
olha a minha pátria restaurada, Portugal aqui!
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
AntónioFMartins
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