terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Vem comigo, Paco (Poemas acerca de tudo)

Vem comigo, Paco
(Poemas acerca de tudo)

(Ao nosso povo, aos Conjurados Restauradores da independência)



Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Vem ver a minha cidade,
o meu país na foz do nosso Tejo,
e um povo todo levantado nesta praça
onde, plena, desemboca a Liberdade.

Aqui, onde vão já esquecidos os ventos quentes
de Alcácer-Quibir, soprados das densas neblinas
das memórias de uma pátria então viúva
e de um Rei trancado nas miragens,
sempre tão distantes, sempre tão perto,
sempre tão aqui  presentes em cada um de nós,
todos os dias imaginando D. Sebastião,
o Rei que em 1578 nos faltou ao reino,
entrando-nos, vindo de sul do Atlântico mar, 
Tejo a cima, navegando até Lisboa.

Mas não, não voltou D. Sebastião.

Nunca voltou D. Sebastião
e então, um reino abandonado
abandonou-se a si mesmo,
dilacerado, ali em terras de Tomar,
nas Cortes da ignomínia, de 1581.
E nunca mais voltou Portugal a Portugal,
num desespero de sessenta anos.
Os sessenta anos mais negros
da memória da minha pátria, Paco.
E não é os teus que eu mais culpo.
É aquela gente, gente da minha gente,
os traidores que, como hoje por aí voltam
e que, como em renovadas Cortes de vergonha
dia a dia nos vendem, nos entregam
e nos tiram até um primeiro de Dezembro
que é da pátria o dia sagrado da pátria restaurada.
Mas, Paco, como outrora, não nos vergaram.
Porque nunca os traidores nos vergarão.

Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar 
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
E talvez no final deste caminho
eu te mostre, ainda, a minha gente
entre os Conjurados no Paço da Ribeira
exultando Portugal reconquistado
e uma Duquesa de Mântua apavorada,
olhando o merecido destino dos traidores
num Vasconcelos ali defenestrado.

Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar,
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!
Olha o meu povo, esta gente de 1143
e sente aqui os Restauradores de 1640,
e um Portugal que aqui nasceu já imortal 
porque ao nascer, logo aqui se fez inteiro.
Aqui vês uma pátria que caída se ergueu, sempre mais forte
e vê como Castela se fez à força toda a Espanha 
numa Espanha que de Castela hoje se aparta.

E Portugal, Paco, é ainda o Portugal que sempre foi.

Olha, Paco, a minha gente livre,
olha a minha pátria restaurada, Portugal aqui!
Vem comigo, Paco
neste feriado que agora vamos restaurar 
abraçados, avenida a baixo.
Na Liberdade!


AntónioFMartins





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