sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

sábado, 24 de dezembro de 2016

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Árvore de fogo

A partir desta espectacular imagem “descoberta" pela minha amiga Mônica Mencaroni, escrevi este poema

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Poema XVII ”Anjas”

Poema XVII / XXIV para mais 12 das sublimes”Anjas”, desenhos do escultor Francisco Simões, meu prezado e fraterno amigo a quem agradeço e abraço.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

terça-feira, 15 de novembro de 2016

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Ao Max (Maximino Teixeira) Amigo feito na guerra

Ao Max (Maximino Teixeira) Amigo feito na guerra



Agora
que o destino se cumpriu
e as batalhas se tombaram no ocaso
vou jogando na cidade
um a um os meus sonhos acabados
e os delírios da febre colorida
das terras distantes
em que passei
como se por lá nunca tivesse estado.
Mas estive.
Estive e conto
e não paro os sonhos acabados
que jogo um a um.
Nesta cidade é viver
esperar que devagar se cumpra
talvez a própria cidade, quem sabe?

Lembras-te, Max,
quando me falavas dos stocks,
da fábrica — era a Riopele, não era? 
e do lugar à tua espera
guardado para ti, na volta.
Mas tu não sabias bem das coisas
do regresso.
Ninguém sabia, Max.
“Se voltar, é para lá que volto”, dizias.
Tu não falavas de cidades,
nem dos delírios urbanos e impessoais
nem das coisas que eu conhecia melhor.
Falavas-me de fábricas e operários
e de pequenas terras
para mim perdidas lá pelo desconhecido norte.
E tinhas a pronúncia e o verbo cantado
ao som dos bês pelos vês.
E eu era um puto da cidade
e tu já homem feito
amassado pela vida.
Lembras-te, Max?
Lembras-te, no mato?
Tinhas tantos dias já no pêlo
e muitas rações no buxo
e, daquela vez ardias em febre.
Estoiraste daquela vez!
Como tu choravas
agarrado ao helicóptero.
lembras-te Max?
—Era a tua alma não as tuas mãos —
Como tu choravas  a angústia
e tu eras duro como rocha
e ali, eu vi um homem partir o medo
sem quebrar a alma.
Há coisas bem terríveis
que a gente não esquece, Max.
Foi um homem o que eu vi em ti
ali agarrado às forças todas
das forças do limite de ti mesmo
que o mesmo é dizer:
Um homem ancorado na coragem.

Há muito tempo que escrevia
aos poucos, devagar, este poema
e aos poucos cada pedaço ia surgindo,
amadurecendo na árvore serena
da amizade que tanto nos unia.
Hoje, a tua Maria do Rosário
— a Mariana como carinhosamente
lhe gostavas de chamar —
deu-me a notícia e eu parei.
E senti que me parava o mundo todo.
Eras o melhor de nós, Max.
És o melhor de nós.
Espera-me, talvez na parada,
perfilados diante das nossas amizades.
Descansa agora.
Um beijo terno.



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António F. Martins










































segunda-feira, 24 de outubro de 2016

domingo, 23 de outubro de 2016

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Era aqui este país

Com um especial agradecimento à Helena Pato que na sua página do facebook publicou a imagem destas crianças da autoria do fotógrafo Artur Pastor, colhida no Alentejo na década de 1940 e integrada na sua série "Crianças". Sobre esta plangente imagem escrevi o poema que aqui vos deixo:




segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Já não somos sequer silêncio (poemas da guerra)

Já não somos sequer silêncio


 Oito mil oitocentos e trinta e um.
Mortos.
Todos mortos.
Catorze mil.
Deficientes.
Todos deficientes.
Cento e quarenta mil.
Neuróticos de guerra.
Todos neuróticos de guerra.

E tu não dizes nada,
não te indignas
e em silêncio calas a revolta?
Oito mil oitocentas e trinta e uma
vidas acabadas no começo da vida
e tu não dizes nada,
não te indignas
e em silêncio calas a revolta?
Catorze mil vidas em pedaços
sem pedaços de si, dos seus corpos
e tu não dizes nada,
não te indignas
e em silêncio calas a revolta?
Cento e quarenta mil almas
alma a alma com a alma perdida,
um vago olhar no olhar e uma guerra
que neles nunca acabou
e tu não dizes nada,
não te indignas
e em silêncio calas a revolta?

Não, camarada, não foi esta a guerra
em que lutamos
nem foi esta a guerra em que perdemos
a vida, o nome e a alma. A inocência.
Por nada!
Não, camarada, não foi esta a história
que a História quis para nós, soldados.
Não camarada, nenhum de nós ali morreu,
nenhum de nós ali caiu em pedaços,
nenhum de nós aqui continua entre minas,
em permanentes emboscadas,
dormindo acordado pelas longas noites
ora frias ora quentes da memória.

E agora aqui, camaradas, é como se nunca  
tivéssemos estado lá naquela guerra,
agora aqui é como se ninguém nos visse,
como se ninguém quisesse reparar em nós,
invisíveis, como sombras perdidos
nas sombras mais sombrias da História,
assim como se a pátria, um dia
nunca nos tivesse dito: Vai!

Oito mil oitocentos e trinta e um.
Mortos.
Todos mortos.
Catorze mil.
Deficientes.
Todos deficientes.
Cento e quarenta mil.
Neuróticos de guerra.
Todos neuróticos de guerra.
E tu não dizes nada,
não te indignas
e em silêncio calas a revolta.


António F. Martins