(Em
memória dos cerca de 4000 mártires republicanos, sumariamente assassinados por
fuzilamento na praça de touros de Badajoz, pelas forças nacionalistas-fascistas
do general Franco, às mãos do odioso general Juan Yagüe, em 16 de Agosto de
1933, um mês depois do começo da guerra civil espanhola. Nenhuma das vítimas —
homens, mulheres, velhos e juvenis foi julgado, sequer ouvido por um tribunal)
Os
fascistas não matam gente nas praças de touros
ao
Domingo, dia santo
Não era
Domingo em Badajoz.
Os
fascistas não matam
gente nas
praças de touros
ao
Domingo, dia santo.
Nem ao
domingo
ali se
sangram almas.
Mesmo
fuziladas.
Tu sabias
o que era estar ali
no dia
dezasseis de Agosto
de mil
novecentos e trinta e três.
Tu
sabias, naquela arena,
nos
corredores daquela praça
sob as
bancadas, sol e sombra
e paredes
de caliça e pedra
e uma
praça inteira e despida,
sem olés
nem flores
só o
medonho urro bárbaro
dos
bárbaros.
Não era
Domingo em Badajoz.
Os
fascistas não matam
gente nas
praças de touros
ao
Domingo, dia santo.
E tu
estavas ali, lado a lado,
ombro a
ombro,
companheiro
ao pé do companheiro,
quem sabe,
de mãos dadas
numa transfusão
imensa
de suor e
tanta coragem,
duma mão
para a outra mão
apertadas
como que dizendo:
Vê,
estamos aqui, unidos,
aqui de
pé e cada um
mais que
um homem,
mais que
a própria liberdade:
a
liberdade toda em nós
à espera
da metralha!
Vê os
nossos peitos moribundos
vê como
ardem exposto assim,
abertos
ao sol de Agosto
ou, quem
sabe, mais logo,
iluminados
pelo brilho
esplendoroso
e frio do luar
e pelo
clarão, rápido e cobarde
das balas
assassinas.
Não era
Domingo em Badajoz.
Os
fascistas não matam
gente nas
praças de touros
ao
Domingo, dia santo.
Não. Não
é aqui o nosso lugar,
não é
esta a nossa terra
nem na espúria
arena de Badajoz
uma bala
assassina matará
em cada
um de nós a liberdade.
Neste dia
dezasseis de Agosto
de mil
novecentos e trinta e três
são
outras as nossas trincheiras
e por
toda a parte outras arenas,
outras
praças, tantas ruas e lugares
e outros
os combates por travar.
Nunca sairemos daqui mortos
porque a
razão nunca morre
nem se curva
perante a tirania,
que aqui
agora é o eterno lugar
dos
nossos sonhos todos
derramados,
semeados nesta terra
com o
perene odor do sangue quente
e da
coragem contra a besta.
Nesta
arena que renascida um dia
frutificando
do sangue, incendiará
esta
praça plena de memória
que será,
aqui, ali, em toda a parte
uma praça
em Badajoz
no mundo
inteiro.
Dezasseis
de Agosto
de mil
novecentos e trinta e três.
Os
fascistas não matam
gente nas
praças de touros
ao
Domingo, dia santo.
Era
sábado em Badajoz.
António
F. Martins
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