O mar todo a
acontecer em mim
Quantas ondas
tem o mar
que eu não
conheça?
Quantos mares
tem o mar
que eu não tenha
já navegado?
E o vento? E os
ventos?
Quantos ventos
sopraram já
que não fosse
nas velas acesas
da coragem do
meu povo,
esta gente desta
terra, aqui,
junto ao mar
todo dos mares,
no sul do tudo
que é o tudo
do tudo perto e
do tudo longe?
Que eu sou neste
lugar fundeiro da Europa
uma rocha erguida
junto ao mar
e o mar todo a
acontecer em mim.
Quantos de mim
adormeceram
no embalo do mar
chão
ou no revolto
pereceram
entre espuma e
ondas bravas
no medonho, no
agreste
dos profundos
mares que naveguei
tantas vezes sem
vento
e tantas vezes
sem mar
sempre em busca
do sul, do norte,
de todos os
pontos cardeais
que no mundo o
mundo tem
e neles achando
sempre o rumo?
Que aqui, mais
que pátria ou que nação,
eu sou um barco,
uma vela, a minha gente
e o mar todo a
acontecer em mim.
António F.
Martins