sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O mar todo a acontecer em mim (poemas do mar)

O mar todo a acontecer em mim


Quantas ondas tem o mar
que eu não conheça?
Quantos mares tem o mar
que eu não tenha já navegado?
E o vento? E os ventos?
Quantos ventos sopraram já
que não fosse nas velas acesas
da coragem do meu povo,
esta gente desta terra, aqui,
junto ao mar todo dos mares,
no sul do tudo que é o tudo
do tudo perto e do tudo longe?
Que eu sou neste lugar fundeiro da Europa
uma rocha erguida junto ao mar
e o mar todo a acontecer em mim.

Quantos de mim adormeceram
no embalo do mar chão
ou no revolto pereceram
entre espuma e ondas bravas
no medonho, no agreste
dos profundos mares que naveguei
tantas vezes sem vento
e tantas vezes sem mar
sempre em busca do sul, do norte,
de todos os pontos  cardeais
que no mundo o mundo tem
e neles achando sempre o rumo?
Que aqui, mais que pátria ou que nação,
eu sou um barco, uma vela, a minha gente
e o mar todo a acontecer em mim.


António F. Martins

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