sábado, 26 de setembro de 2015

Do Tejo vejo as Amoreiras (Escrevendo e desenhando por Lisboa)

Do Tejo vejo as Amoreiras
(Escrevendo e desenhando por Lisboa)


Já vai alta a maré, 
galopando cíclica e veloz, Tejo a cima, 
passando os cais de Lisboa um a um, 
até se espraiar pleno na lezíria, 
Ribatejo a dentro. 

Mas eu não vou.

Desta vez não vou acompanhar-te, Tejo. 
Fico por aqui, de frente para uma cidade 
que lá no cimo do olhar não é a minha cidade.

Nasces do rio, Lisboa, uma cidade perfeita, 
arrumada, mesmo que na desordem ordenada 
do teu luminoso e desalinhado casario 
e, colina acima não se te vê defeito, só virtude. 

Os espaços certos dentro dos espaços certos, 
os vazios, o equilíbrio perfeito que, há muito, 
os mestres construtores da cidade, 
como ninguém te souberam dar. 

Agora, lá no topo da colina 
que é o bairro das Amoreiras, 
o tempo (e um tal Taveira, rascunhador 
de um abominável reino dos abomináveis patos bravos) 
fez-te espigar, saliente e agreste como erva daninha 
no cimo de um bonito prado.

Vou ficar aqui, Lisboa, olhando para ti 
e, como uma criança, fazer de conta que não vejo,
que não quero ver, lá em cima aquelas coisas.


AntónioFMartins


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