Em "Poemas acerca de tudo", é mesmo de tudo e sobre tudo que escrevo. Os "Poemas da guerra" são da guerra. A que fiz e a que ficou em mim. "Escrevendo e desenhando por Lisboa" e "Escrevendo e desenhando pelo Porto", é a minha poesia escrita sobre os traços dos meus desenhos das cidades e das gentes das cidades. É esta a poesia que aqui partilho. A minha poesia. Nada mais que escrita, escrita no perto da alma e no longe do olhar. A minha poesia e o meu olhar.
sábado, 29 de outubro de 2016
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
domingo, 23 de outubro de 2016
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Era aqui este país
Com um especial agradecimento à Helena Pato que na sua página do facebook publicou a imagem destas crianças da autoria do fotógrafo Artur Pastor, colhida no Alentejo na década de 1940 e integrada na sua série "Crianças". Sobre esta plangente imagem escrevi o poema que aqui vos deixo:
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
Já não somos sequer silêncio (poemas da guerra)
Já não
somos sequer silêncio
Mortos.
Todos
mortos.
Catorze
mil.
Deficientes.
Todos deficientes.
Todos deficientes.
Cento e
quarenta mil.
Neuróticos
de guerra.
Todos
neuróticos de guerra.
E tu não
dizes nada,
não te
indignas
e em
silêncio calas a revolta?
Oito mil
oitocentas e trinta e uma
vidas
acabadas no começo da vida
e tu não
dizes nada,
não te
indignas
e em
silêncio calas a revolta?
Catorze
mil vidas em pedaços
sem
pedaços de si, dos seus corpos
e tu não
dizes nada,
não te
indignas
e em
silêncio calas a revolta?
Cento e
quarenta mil almas
alma a
alma com a alma perdida,
um vago
olhar no olhar e uma guerra
que neles
nunca acabou
e tu não
dizes nada,
não te
indignas
e em
silêncio calas a revolta?
Não,
camarada, não foi esta a guerra
em que
lutamos
nem foi
esta a guerra em que perdemos
a vida, o
nome e a alma. A inocência.
Por nada!
Não,
camarada, não foi esta a história
que a
História quis para nós, soldados.
Não
camarada, nenhum de nós ali morreu,
nenhum de
nós ali caiu em pedaços,
nenhum de
nós aqui continua entre minas,
em
permanentes emboscadas,
dormindo
acordado pelas longas noites
ora frias
ora quentes da memória.
E agora
aqui, camaradas, é como se nunca
tivéssemos estado lá naquela guerra,
agora
aqui é como se ninguém nos visse,
como se
ninguém quisesse reparar em nós,
invisíveis,
como sombras perdidos
nas
sombras mais sombrias da História,
assim
como se a pátria, um dia
nunca nos
tivesse dito: Vai!
Oito mil
oitocentos e trinta e um.
Mortos.
Todos
mortos.
Catorze
mil.
Deficientes.
Todos deficientes.
Todos deficientes.
Cento e
quarenta mil.
Neuróticos
de guerra.
Todos
neuróticos de guerra.
E tu não
dizes nada,
não te
indignas
e em
silêncio calas a revolta.
António F. Martins
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
Balada para um regresso (poemas da guerra)
Balada para um regresso
Ao Mateus
(poemas da guerra)
Quando voltares, amigo,
estaremos todos
de pé à tua espera
num qualquer lugar
das nossas histórias,
talvez num qualquer lugar
daqueles lugares
que só em nós existem
e só em nós ficaram
como marca indelével
das nossas vidas de soldados.
Quando voltares, amigo,
estaremos todos
de pé à tua espera
como quem espera a sua vez
para voltarmos a caminhar juntos,
um atrás de cada um,
de armas aperradas
andando pelos silêncios
das silenciosas matas
que tanto percorreste
ou, lado a lado, em cada emboscada
que te preparou a guerra e a vida.
Quando voltares, amigo,
estaremos todos
de pé à tua espera
numa qualquer esquina
das ruas do Porto que pisavas
porque não foi só na guerra
que se perdeu a tua vida
foi, talvez, na tua própria vida
que perdeste a tua guerra.
Quando voltares, amigo
estaremos todos
de pé à tua espera.
À espera de nós todos, quem sabe.
Descansa agora.
Um beijo.
António F. Martins
terça-feira, 4 de outubro de 2016
Canto das pedras e das flores
Mais um poema que, com um abraço aqui vos
deixo, dedicado a Pescanseco (*).
Às pedras de Pescanseco.
Canto das pedras e das flores
Fez-se a pedra em flor
regada com pingos de ti mesmo
do suor com que arrancavas
da terra funda, da pedreira,
pedra a pedra as pedras secas
que sustentaram uma a uma
as calçadas das terras do teu pão,
socalco a socalco como degraus
em passos de gigante, encosta acima
as paredes altas das ribeiras
e as paredes das casas que fazias.
A tua casa pedra a pedra,
a tua vida toda ali e o teu caixão
feito de pedras talhadas, de musgos
e pequeninas flores do nada
nascidas no tudo da pedra bruta
que cavavas do fundo da terra
como se cavasses no fundo
dos teus sonhos todos.
E ali, com a pedra, pedra a pedra
fizeste tudo e o teu futuro.
Deixa agora que voltem a crescer,
das pedras que deixaste
as flores bravias como tu.
Já não há paredes, já não há portais,
já não há muros, já não há casas
já não há nada de pedra para fazer.
Só a pedra que se fez em flor.
António F. Martins
(*) Aldeia do Concelho de Pampihosa da Serra, na Beira Baixa.
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