domingo, 29 de novembro de 2015

Entre os meus rios (Poemas acerca de tudo)

Entre os meus rios
(Poemas acerca de tudo)


Não te deixes só aqui,
rabelo,
ancorado nas ondas
deste Douro,
neste Porto tão bonito.
Sai a foz
e vem comigo,
ver a minha cidade,
Atlântico a baixo
rumo ao sul
e leva-me ao Tejo
que eu prometo-te,
numa qualquer volta
das atlânticas marés,
fazer de ti uma fragata
e trocar a tua vela quadrada
pela latina de Lisboa
a navegar contigo
na proa da saudade,
a bordejar Douro a cima
nas águas calmas
do meu Tejo.


AntónioFMartins

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

Era Paris, 13 de Novembro de 2015


Era Paris, 13 de Novembro de 2015


Era Paris
mas então foi Lisboa,
Amesterdão, Berlim
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
onde o lugar era
a cidade e a gente
e da gente a igualdade.

Era Paris
mas então foi Lisboa,
Bruxelas, Londres
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
numa cidade feita Europa
onde era gente a gente
e a gente fraternidade.

Era Paris
mas então foi Lisboa,
Roma, Madrid
numa cidade qualquer
foi o lugar, ali
onde a noite se fez gente
e a gente se fez sangue
e de cada corpo estilhaçado
brotou correndo a liberdade!



AntónioFMartins


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Madrugadas (Poemas acerca de tudo)

Madrugadas
(Poemas acerca de tudo)


Em cada madrugada,
por entre os silêncios
dos sonos e dos sonhos
e o agitar do vento norte
rompendo a surda calmaria,
adormecem serenas as searas
e caem mortas, nos regatos
as primeiras aves da manhã.

Em cada madrugada,
nascem e crescem as sombras
e das sombras o medo
que gela o sangue e o ódio
nos rios lamacentos
que correm pela cidade,
sem luz, por dentro de nós
e pelos nossos, tão nossos
ermos escuros.

Em cada madrugada
há um compasso incerto
de certezas que eu não sei,
de inquietações que não desvendo
e uma noite plena de silêncios
que do silêncio da noite
os gritos se não ouvem.
E há um relógio que não para
e há um sol que se não vê
e há um menino que dorme
acordado no colo da sua mãe.

Em cada madrugada
e no seu espaço
pode nascer uma flor
crescer e morrer
e cumprir-se assim inteira a noite
adormecida em si mesma
numa qualquer rua da cidade,
numa esquina ou numa cama
com lençóis de seda e sem amor.
E, lá fora, uma lua, sempre uma lua
em discretas vigílias,
perscrutando atenta, no escuro,
os silêncios, os sonos e os sonhos.

Em cada madrugada
não é só a noite e a sombra
ou o silêncio e a angústia
de inusitadas paixões
ou de amores oferecidos,
comprados, vendidos
ou encontrados nos copos cheios
de vidas às vezes tão vazias.
Em cada madrugada
é também o tempo da espera
de quem espera na noite
o acontecer de cada noite
e, em cada noite espera
a madrugada chegando
e partindo a qualquer hora.

Talvez sempre à mesma hora.



AntónioFMartins

sábado, 7 de novembro de 2015

Da pedra e da gente (Poemas acerca de tudo)

Da pedra e da gente
(Poemas acerca de tudo)


Lisboa é uma aldeia
como a tua aldeia,
vestida de pedra e gente
como a gente e a pedra
da pedra e da gente
da tua aldeia de pedra e gente.
Mas Lisboa não é a pedra
nem é a gente da tua aldeia.

É outra a pedra é outra a gente.

Lisboa é também, de pedra e gente
uma aldeia diferente.


 AntónioFMartins

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Em Lisboa a passear Lisboas (Escrevendo e desenhando por Lisboa)

Em Lisboa a passear Lisboas
(Escrevendo e desenhando por Lisboa)


De colina em colina,
desde o Martim Moniz na Baixa,
o amarelo da Carris
leva todos os dias
Lisboa a passear Lisboas.

É o “28” que aqui vai,
já meio cansado
de descer
e subir tanta cidade,
deixando agora o Calhariz
para se fazer à empinada descida
da Calçada do Combro.

Até lá a baixo
é a luta titânica entre aço,
rodas e carris,
sempre a refrear o travão
e os ânimos de quem nele vai.

Já aqui se não ouve
o “pó-de-seguir”
que a crise levou de vez  o “pica”,
nem o façanhudo guarda-freios
resistiu à feminina era,
com ela repartindo
máquina,
carris e ruas de Lisboa.

Que importa,
se os carris, de igual modo
obedecem a um e a outro.

Leva-me, amarelo,
debruçado em cada uma
das tuas janelas
e mostra-me, inteiro,
o sedutor serpentear
dos teus caminhos
por Lisboa.

Espera-nos no final,
o Largo dos Prazeres.

É Lisboa.

AntónioFMartins