Madrugadas
(Poemas acerca de tudo)
Em cada madrugada,
por entre os silêncios
dos sonos e dos sonhos
e o agitar do vento
norte
rompendo a surda
calmaria,
adormecem serenas as
searas
e caem mortas, nos
regatos
as primeiras aves da
manhã.
Em cada madrugada,
nascem e crescem as
sombras
e das sombras o medo
que gela o sangue e o
ódio
nos rios lamacentos
que correm pela cidade,
sem luz, por dentro de
nós
e pelos nossos, tão
nossos
ermos escuros.
Em cada madrugada
há um compasso incerto
de certezas que eu não
sei,
de inquietações que não
desvendo
e uma noite plena de
silêncios
que do silêncio da noite
os gritos se não ouvem.
E há um relógio que não
para
e há um sol que se não
vê
e há um menino que dorme
acordado no colo da sua
mãe.
Em cada madrugada
e no seu espaço
pode nascer uma flor
crescer e morrer
e cumprir-se assim
inteira a noite
adormecida em si mesma
numa qualquer rua da
cidade,
numa esquina ou numa
cama
com lençóis de seda e
sem amor.
E, lá fora, uma lua,
sempre uma lua
em discretas vigílias,
perscrutando atenta, no
escuro,
os silêncios, os sonos e
os sonhos.
Em cada madrugada
não é só a noite e a
sombra
ou o silêncio e a
angústia
de inusitadas paixões
ou de amores oferecidos,
comprados, vendidos
ou encontrados nos copos
cheios
de vidas às vezes tão
vazias.
Em cada madrugada
é também o tempo da
espera
de quem espera na noite
o acontecer de cada
noite
e, em cada noite espera
a madrugada chegando
e partindo a qualquer
hora.
Talvez sempre à mesma
hora.
AntónioFMartins
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