Um poema que aqui
vos deixo e que hoje mesmo escrevi, na sequência das imagens de sem-abrigo que
há pouco vi e cujo link aqui publico. Vejam a impressionante carga humana e
dramática de cada uma das personagens magistralmente fotografadas por Lee
Jeffries:
E eu que já nem
choro
(Poemas acerca
de tudo)
Um a um,
rosto a rosto,
devagar,
entro em cada
rosto,
em cada olhar
que aqui vejo,
que me atormenta
e de que já não
sei sair,
aprisionado
neles
pela vergonha.
A minha vergonha
toda
à flor da pele.
Comovo-me.
Mas nem uma lágrima.
é que um homem
fica seco
quando sente que
a alma,
por instantes,
lhe morre no
peito.
E então eu sinto
que em cada
rosto,
em cada olhar,
em cada marca
profunda
gravada pelo
tempo,
no tempo de cada
um,
vejo neles, ali
à minha frente,
a humanidade
toda.
E vergonha,
sinto vergonha.
Um a um,
rosto a rosto,
devagar,
entro em cada
rosto,
em cada olhar
que aqui vejo.
Secou-se-me a
alma aqui.
Talvez perdida
no fundo do meu peito
e é só esta dor
que agora sinto,
só esta dor que
eu não entendo.
E eu que já nem
choro.
António F.
Martins
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