Entre a terra e o mar, o meu país
(Poemas do mar)
Descobrindo, andou sempre perdido o meu país,
entre a terra firme e o mar desconhecido,
entre o perto e a distância e uma foz sempre atlântica,
os brasis, as índias, as partidas e as chegadas
e tudo ali quase acabado no longe e no perto de Alcácer
Quibir.
Foi sempre assim o meu país: o tudo e o nada.
O Império todo e os Rossios que sobraram,
metade do mundo encravado no fundo da Europa
e D. João II e o Mostrengo, e o impossível mar
e um português firme, mais que Portugal, ao leme.
E logo ali cruzada no destino a glória e a tragédia,
a descoberta dos mundos todos por achar,
o naufrágio no escorbuto e na sede das miragens,
o longínquo do medo e dos mares novos,
nos mares de Camões nunca dantes navegados,
no mar que de longe, marinheiro a marinheiro,
trouxemos todo para casa
e em tanto dele
todos os dias navegamos e todos os dias
nele naufragando nos afundamos ainda.
Descobrindo, andou sempre perdido, o meu país,
entre a terra firme e o mar desconhecido.
António FMartins
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