terça-feira, 15 de março de 2016

Balada do mar Tirreno (Poemas do mar)

Balada do mar Tirreno
(Poemas do mar)



Perguntas-me, sereia:
Serei a sereia mais bonita
entre as sereias, meu amor?

Mas eu não te ouço
e não respondo ao encanto do teu canto
e resisto amarrado
aos mastros fortes dos destinos.

E tu perguntas-me de novo:
Serei a sereia mais bonita
entre as sereias, meu amor?

E eu que não sei o que te diga
porque não quero dizer o que queria,
nada te digo
e amarro-me mais aos mastros fortes
como se não quisesse abraçar-me a ti.

E então eu peço-te que não,
que não me chames mais,
que me deixes partir,
voltar ao Tejo e à minha mãe
e invoco Achelous e Terpsícore
e os meus ouvidos que não ouvem
e o meu corpo amarrado
aos mastros fortes do destino.

E do teu canto tão perdido já no vento
e no longe da distância, eu já não sei se fiquei,
se parti, onde estou, se é o mar, se é o vento,
se é a ti que sem ouvir eu ouço ainda:

Serei a sereia mais bonita
entre as sereias, meu amor?

Diz-me que sim
e eu serei a sereia mais feliz.


António F. Martins

Imagem: Mermaid swimming with a child de Amelia Bauerle)


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