Uma coisa
meio poema, meio não sei bem o quê, mas, porque estamos na Santa quadra pascal,
quis que fosse acerca dum coelho. Não um coelhinho qualquer, claro. Um coelho
coelho.
Passos em volta dum coelho que não é da
Páscoa
(Nem de coisa nenhuma que valha ou que se
veja)
Já nem me
lembrava de ti, coelho,
não fora
a Páscoa, os Passos Pascais
e o sabor
a chocolate amargo que nos deixaste
na boca,
nos bolsos e na alma,
a cada
passo dos passos, coelho,
que nos
obrigaste a dar atrás.
Já nem me
lembrava de ti, coelho,
não fora
os passos que ainda ouço, mesmo distantes
e me
lembram o cof-cof enrolado nas mentiras
que a
cada passo dos teus passos, coelho,
nos vendias
embrulhadas no papel pardo, não de prata,
o
chocolate mais negro e mais amargo.
Tão negro
e tão amargo como a vida que nos deste.
Agora, estes
dias pascais, passo-os, coelho, a tentar esquecer-me de ti.
Da tua doçura
tão amarga.
É que
nesta Páscoa quero esquecer-me de vez
dos miseráveis
passos que como Sísifos
nos
fizeste dar acima e abaixo, sempre à tua volta,
amarrado aos
teus malvados passos, coelho.
António
F. Martins
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