domingo, 27 de março de 2016

Passos em volta dum coelho que não é da Páscoa

Uma coisa meio poema, meio não sei bem o quê, mas, porque estamos na Santa quadra pascal, quis que fosse acerca dum coelho. Não um coelhinho qualquer, claro. Um coelho coelho.



Passos em volta dum coelho que não é da Páscoa
(Nem de coisa nenhuma que valha ou que se veja)


Já nem me lembrava de ti, coelho,
não fora a Páscoa, os Passos Pascais
e o sabor a chocolate amargo que nos deixaste
na boca, nos bolsos e na alma,
a cada passo dos passos, coelho,
que nos obrigaste a dar atrás.

Já nem me lembrava de ti, coelho,
não fora os passos que ainda ouço, mesmo distantes
e me lembram o cof-cof enrolado nas mentiras
que a cada passo dos teus passos, coelho,
nos vendias embrulhadas no papel pardo, não de prata,
o chocolate mais negro e mais amargo.
Tão negro e tão amargo como a vida que nos deste.

Agora, estes dias pascais, passo-os, coelho, a tentar esquecer-me de ti.
Da tua doçura tão amarga.
É que nesta Páscoa quero esquecer-me de vez
dos miseráveis passos que como Sísifos
nos fizeste dar acima e abaixo, sempre à tua volta,
amarrado aos teus malvados passos,  coelho.



António F. Martins

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