sábado, 28 de maio de 2016

Chafurdai no vinte e oito

Chafurdai no vinte e oito
(28 de Maio, ta renego, Satanás!)



Galhofai hoje, ó saudosistas,
direitólas, láparos e barbasolas,
ex-pides, bandalhos da Legião,
nascidos sem mãe, sem pai, sem coito,
carrascos, cabrões, fascistóides,
saudosistas do vinte e oito
do Maio e da revolução,
do Império inteiro a naufragar,
do Deus, da pátria, família,
da ditadura, do botas, Salazar.

Galhofai hoje, saudosistas,
gozai plenas neste dia, a saudade e a paixão,
chafurdai no vinte e oito uns com os outros,
com os muitos que por aí ainda estão...


António F. Martins




sexta-feira, 27 de maio de 2016

Não glifosatarás!

Contra esse perigosíssimo químico que é o glifosato, aqui vos deixo, talvez, digamos, de forma “ligeiramente” patética... (mas não apatetada) o meu contributo de vigoroso protesto. Claro que, a brincar a brincar é mesmo para levar a sério...




 Não glifosatarás


 Ó miserável glifosato,
ó sombrio e tenebroso assassino
dos pequenos habitantes das ervas,
os inofensivos infestantes, as malinas
e os campestres parasitas.
Ó tentador néctar mortal, definitivo,
que me embebedas — cego e insensível,
o trigo e o joio, o cardo, a cavalinha,
a Polygonaceae japonesa, a urtiga,
o panasco, o senécio, a ançarinha.

Ó miserável glifosato,
ó sombrio assassino de Monsanto
(Onde agora, dizem, já não se plantam meninas,
nem por ali se vê já crescer o pepino e o marmelo)
Ó tu que me atormentas a horta e o montado,
o regadio e o sequeiro, em todo o lado.

Vou deixar-te de vez, glifosato
e, de novo, dobrado ou de joelhos,
vou cuidar  com as próprias mãos
que nasçam sãos os grelos e tomates por aqui.



António F. Martins

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Anjas- Poema primeiro

O enorme encanto que me provocam as “Anjas” do escultor Francisco Simões, levaram-me ao atrevimento (para não dizer “lata”...) de lhe pedir que me autorizasse a usar um desses fascinantes desenhos para ilustrar um poema que acerca delas resolvi escrever. A resposta foi tão pronta e generosa que talvez me dê balanço para repetir a façanha. É que que os desenhos são tantos e todos tão bons e tão e tão bonitos... Encontro nestas “Anjas”, na sua estética, na exuberância contida do traço simples, seguro e duma extrema elegância, um encantamento tal que, em cada uma vejo, mais que uma inquestionável e admirável homenagem à mulher,  uma grande homenagem a cada uma das nossas “Anjas”. Mesmo aquelas que só vemos voando pelos sonhos distantes dos nossos sonhos.

Um abraço reconhecido ao Francisco.

domingo, 22 de maio de 2016

Atira-me ao vento

Atira-me ao vento



Atira-me, meu amor, ao vento norte,
ao siroco, ao sudoeste,
aos ventos que mais sopram
em Portugal, minha pátria inquieta,
sempre ancorada nos destino de qualquer viagem
e dá-me inteiro às nortadas frias
num qualquer sonho de delírios acordados
ou adormecido nos ventos quentes
e deixa-me sozinho nas areias cálidas a norte do longe.

Arrastem-me ventos que eu não tenho velas,
sou todo quilha e mastros nus, uma nau feita tempo.
Abraça-me depois nos oceanos todos, exuberante,
que eu sou Portugal e vou com qualquer vento.

Atira-me, meu amor, ao vento.


António F. Martins


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Garganta, Jesus, garganta


Nem sempre um Homem consegue dar a outra face... Por não o fazer, Jesus, filho de Deus, perdoa-me lá desta vez...




Garganta, Jesus, garganta



Ensina-me ó Jesus
a saber comer as pipocas
que do pacote tão cheio
me caiem às 35 no colinho
e me sujam os bancos
de linda pele de leão
deste poderoso Ferrari
que tanto agora te atormenta.

Ah, Jesus, como em vão trocaste
tantos cavalos de potência:
seis milhões, Jesus, seis milhões
por uma mão cheia de tão pouco,
pouco mais que um Calvário
que o outro Jesus, o verdadeiro,
não mereceu mas tu mereces.

Cuida, Jesus, que os espinhos
não te cheguem à garganta,
cuida, Jesus, cuida bem dela.
É o melhor que ainda tens.


António F Martins