domingo, 1 de maio de 2016

Adormecendo em ti, mãe

À minha mãe, Celeste



Adormecendo em ti, mãe


Mãe, eu, às vezes, muitas vezes, ainda tenho medo.
Muito medo, minha mãe.
Às vezes, muitas vezes, nas noites do meu quarto,
eu acordo no silêncio dos silêncios e, num grito,
chamo: Mãe!

Às vezes tenho medo, mãe.

Um medo que não sendo já do escuro,
me lembra ainda um suave lençol tão perfumado
em que, quieto e ausente da noite, me escondia
do medo do medo de ficar sozinho,
do medo do medo de chamar por ti
e tu não estares no quarto ao lado.


Mãe, eu já não tenho medo do escuro.
Eu só tenho medo, agora, de ter medo.
talvez o medo que nem toda a claridade
apaga ainda em mim:
O medo de olhar-te o rosto e não ver o teu sorriso,
de te querer comigo e estares ausente.
E então, de dentro dum lençol suave e perfumado,
saio do medo e parece que volto, pequenino,
à minha infância e ao teu colo, minha mãe.
De novo ao teu colo.

Aninho-me em ti , dou-te um beijo, acaricio-te as mãos
e adormeço em ti.


António F. Martins
1Maio2016

Sem comentários: