segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Aprendendo a gostar de ti (Escrevendo e desenhando pelo Porto)

Aprendendo a gostar de ti
(Escrevendo e desenhando pelo Porto)


Por aqui ando 
e aqui recordo, 
parado na sua praça, 
El Rei D. João I,
o da Boa Memória ,
filho ilegítimo
do Cru Justiceiro 
D. Pedro I 
e, aqui, 
acabo também eu 
por me sentir 
como se fora
bastardo, 
filho ilegítimo 
deste Porto,

É que eu
não sou daqui.

Este Porto 
que já me foi 
tão distante,
sombrio 
e indiferente.
Uma cidade
que eu sempre via 
perdida
em densos 
nevoeiros
escorrendo, 
frios e medonhos
pelos granitos rudes
das fachadas
até ao negro Douro,
lá em baixo,
no fundo da cidade.

Nunca aqui
vislumbrara
nada.
Nem raízes,
nem afago,
nem afecto
nem Pai
nem Mãe.
Nada.

Nada aqui 
me prendia.

Agora, eu digo 
e quero que tu saibas
o súbito amor
que a proximidade,
o conhecer-te,
o poder namorar contigo,
fez acontecer em mim.

Agora, 
eu gosto de dizer
que é também minha
esta cidade.
Esta cidade
que, amiúde, 
apaixonadamente 
percorro 
e em que 
quase sempre 
me sinto em casa.

Perfilhar-me-ás 
um dia, Porto ?


AntónioFMartins







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