África negra
(Poemas acerca de tudo)
O vinho consumido aumenta
e os espíritos afogados
vagueiam pelas ruas
procurando o destino
que o destino lhes roubou
e, em cada história,
contando da história
outra história.
Sempre amargura.
Sempre dor.
Sempre a distância.
África negra.
Negra vida.
É sempre noite por aqui.
A morte sabe
a batuque,
a fogo e cor
e dança e magia
e chicote
e doce e acre,
e sabe a homem
e a noite
e a mato e a fumo
e a velho e a menino
e a dor e a vingança,
e amargura e dor.
E noite.
E a noite sabe a morte
adiada em cada noite.
É tarde.
Já os silêncios
se não ouvem
nem o vento
aqui dá sinal.
Já não há leões
por perto,
debandaram para longe
com a esperança,
e só as aves de rapina
permanecem, muitas,
muito perto.
É sempre noite por aqui
e a morte sabe
a batuque.
Na sombra de um dia
sem luz,
o sol abrasa o verde
e os frios, e os corpos suados.
E o vento leste
e todos os outros ventos
fustigam searas imaginárias
de fomes reais
e angústias de espera eterna.
Espera.
Espera.
E só as aves de rapina
permanecem, muitas, muito
perto.
É sempre noite por aqui.
e a morte sabe
a batuque.
E sabe a guerra
e a senhores da guerra
e a meninos na guerra,
e
meninos às costas
do
destino
nas costas curvadas
de suas mães.
Curvadas,
sempre curvadas.
E o trigo e o pão e a água
que não existe
e a dor e a angústia
e a fome
que existe
a escapar-se-lhe
das mãos
que acarinham
e agarram, sozinhas
o sonho e o destino.
É sempre noite por aqui.
e a morte sabe
a batuque,
que a morte é negra,
a morte é fome.
A morte é o abandono
e a indiferença
e a maldita caridadezinha
e a pena, muita pena,
e a pena condenada.
Suspensa.
E o vinho consumido aumenta
e os espíritos afogados
vagueiam pelas ruas
e contam da história
outra história.
África negra.
Vida.
AntónioFMartins
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