Aqui somos
(Um poema que dedico a Portugal)
Aqui entre o mar e o tempo
somos fronteira e terra e gente
somos a frágil bruma e o vento
suave, agreste, povo e sentimento.
Aqui somos a lança e a conquista
e o Bojador e as tormentas e a vela.
Somos a nau e o mar e o sal e os órfãos
e as lágrimas e o sal
e as viúvas de Pessoa por casar.
Aqui somos o mar.
Aqui somos o Fado e a luz da vela
e a viela e o sangue e o fado
a meia-porta e o rufia. Somos nós.
Aqui entre o mar e o tempo
somos a varina e o ouro e a sardinha
e a mulher pequenina,
somos o velhaco dançarino. Pequeninos.
Aqui embalamos a saudade
e trocamos as voltas ao destino.
Aqui somos o mar.
Aqui é o nosso destino.
Mesmo quando (às vezes) aqui não temos
destino.
Aqui somos mestres universais
de todas as artes universais
Aqui somos mestres.
Aqui somos nós e um tempo
e somos nós e o tempo de nós próprios
Aqui somos o espaço e o momento
Aqui somos mais.
Aqui somos o mar.
Aqui somos a permanente descoberta
de tudo o que é vago
e aparentemente inalcançável.
Aqui somos tudo o que está para além dos
nevoeiros.
Aqui somos a eterna neblina de nós próprios.
E a Terra e os infinitos Céus.
Aqui somos o próprio infinito.
Aqui somos infinitos.
Aqui somos o mar.
Aqui somos tudo e mais que tudo.
Violência e paz
e inquieta tranquilidade
Aqui, somos nós
Aqui no resto desta Europa
no fim dos homens junto aos peixes de Vieira
Aqui somos mar
e o mar se transforma em nós
e a História e a história e a história
confundida em toda a História.
Aqui somos
nós, Portugal.
AntónioFMartins
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