terça-feira, 23 de junho de 2015

Daqui (Escrevendo acerca de tudo)

Daqui

Deixaste-me assim
agarrado ao mar,
à terra,
ao tempo.

E eu, sem saber
se sou mais mar
se sou mais terra
se mais tempo,
fiquei por aqui
como uma rocha,
preso a uma falésia
no sopé de um monte
e na lonjura
do espaço e do plano.

Ao vento.

Às vezes,
um homem
é como uma nação.
Às vezes
um homem
é a sua própria nação
e enterra-se nela
como se enterra a árvore,
com as raízes inteiras
terra profunda a dentro
e então cresce,
ramifica e volta a crescer
da terra, mais à frente,
em todo o lado, no seu chão.

Eu sei-me aqui,
conheço-me aqui
neste lugar
de atlântica pedra,
de aquém e além tejos,
de douros a correrem doces
nos copos desta saudade
às vezes tão amarga.
Às vezes, tão só saudade.

É esta a terra de que eu sei,
a terra e o lugar que eu não escolhi
mas de onde não saio.
Esta é a terra de ficar,
esta é a terra onde nasci.


AntónioFMartins

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