(“Não tenham
medo da fama / de Alfama mal afamada /
a fama às vezes
difama / gente honesta, gente honrada”
Excerto de poema
de Francisco Radamanto-Conde de Sobral)
Eu sou daqui
À minha rua do
Barão, onde nasci)
(Escrevendo e
desenhando por Lisboa)
Eu sou daqui,
da rua do Barão.
A que à sombra
da Sé
desce até São
João da Praça,
ali morre e ali
começa.
Aqui, era o
pregão
e o pé descalço,
o operário,
os ofícios,
a varina,
o bibe sujo da
criança
e uma bola,
uma guitarra
e um fado
desgarrado noite
dentro,
e a meia porta,
o rufia,
o toque das Trindades,
o incenso
e a procissão.
Aqui, era uma
aldeia
inteira na
cidade
e uma mão cheia
mas fechada,
estendida a
outra mão,
de janela para
janela.
E era a tarde a
entrar,
todos os dias às
Trindades,
pelas janelas par
em par,
e um cheiro a
peixe
que é de Alfama,
e em cada viela
uma calçada
feita em tejos.
Eu nasci aqui
e daqui saí
há muito tempo,
ainda menino,
muito menino.
Mas eu acho que,
verdadeiramente,
nunca se sai
do lugar onde se
nasce,
nem dele se
arrancam
todas as raízes.
É que, as
pessoas
são como as
árvores:
quanto mais a
sua copa
se afasta da
terra,
mais as suas
raízes
nela se entranham.
AntónioFMartins
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