Em ti
E é isto,
a gente enterra
os dedos secos
na memória
e arrisca um
risco azul
sobre o seu
próprio nome.
Dói-me a dor
de estar assim.
Às vezes
não sei se sou
eu
que estou aqui
e, então,
gosto de passar
os dedos
pela minha
própria sombra.
E deitar-me
despido
sobre a erva
fresca.
Deixar que
termine a manhã
e que, consumindo-se
a tarde,
a noite chegue
fresca e pura
fechando os
girassóis
e calando as
andorinhas.
À noite
sinto que morro.
E embebedo-me
sozinho
desperto e atento
em copos cheios
de amargura
antiga.
Às vezes tão
antiga
como a minha
própria idade.
E rebolo-me no
vazio
do espaço e do
tempo.
E acordo em
sobressaltos
suaves e seguros
em sítios que
não quero
ao pé de quem
nem sei.
E perturbo-me
e perturbo-me.
E penso e durmo
e acordo
e perco-me e
encontro-me
em leitos
distantes
em rios imensos
e margens
abertas.
E o tempo
e o tempo.
À noite
perco a sombra
companheira
e viro-me ao sol,
esqueço-me do
que sou
e quedo-me.
E dói-me a dor
de estar assim.
E tantas vezes
me deito em ti
e como se no mar
me afogasse,
agarro-me à
areia
do teu corpo
e grito nuncas
de revolta
e tanta paz.
Às vezes é isto,
a gente enterra
os dedos secos
na memória
e arrisca um
risco azul
sobre o seu
próprio nome.
Às vezes ancoro
em ti
e descanso então.
AntónioFMartins
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