terça-feira, 23 de junho de 2015

Em ti (Escrevendo acerca de tudo)

Em ti

E é isto,
a gente enterra
os dedos secos na memória
e arrisca um risco azul
sobre o seu próprio nome.

Dói-me a dor
de estar assim.

Às vezes
não sei se sou eu
que estou aqui
e, então,
gosto de passar os dedos
pela minha própria sombra.

E deitar-me despido
sobre a erva fresca.

Deixar que termine a manhã
e que, consumindo-se a tarde,
a noite chegue fresca e pura
fechando os girassóis
e calando as andorinhas.

À noite
sinto que morro.

E embebedo-me sozinho
desperto e atento
em copos cheios
de amargura antiga.
Às vezes tão antiga
como a minha própria idade.

E rebolo-me no vazio
do espaço e do tempo.

E acordo em sobressaltos
suaves e seguros
em sítios que não quero
ao pé de quem nem sei.

E perturbo-me
e perturbo-me.

E penso e durmo
e acordo
e perco-me e encontro-me
em leitos distantes
em rios imensos
e margens abertas.

E o tempo
e o tempo.

À noite
perco a sombra companheira
e viro-me ao sol,
esqueço-me do que sou
e quedo-me.
E dói-me a dor de estar assim.

E tantas vezes
me deito em ti
e como se no mar
me afogasse,
agarro-me à areia
do teu corpo
e grito nuncas de revolta
e tanta paz.


Às vezes é isto,
a gente enterra
os dedos secos na memória
e arrisca um risco azul
sobre o seu próprio nome.


Às vezes ancoro em ti
e descanso então.



AntónioFMartins

Sem comentários: