terça-feira, 23 de junho de 2015

Leva-me ao Maio (Escrevendo acerca de tudo)

Leva-me ao Maio


Leva-me contigo ao Maio.
Leva-me contigo,
num abraço, de mão dada.
Leva-me contigo ao Maio
e entoarei para ti, uma a uma,
as suas cantigas. As do Maio.
Que eu não quero ir sozinho
pelas ruas, as avenidas,
de lugar em lugar,
por entre os prédios,
calcorreando as calçadas
pela cidade.

(Perdido na cidade, sozinho,
eu sinto-os pousar.
E é isso, vêm em bandos.
Cheiro-lhes o cheiro a sangue)

Leva-me contigo ao Maio.
É que eu, meu amor, já não sei
nem do tempo, nem da memória
destes Maios, destes maduros Maios
saindo de um Abril que aqui tão perto,
tão longe parece já.

E hoje, 1 de Maio de 2015,
pelas ruas, as avenidas,
de lugar em lugar,
nas calçadas, por entre os prédios,
eu vejo um chão que é de medo
e só ouço gritos, muitos gritos
como que vindos, quem sabe,
de uma abafada noite
a querer  de novo despontar.

Leva-me contigo ao Maio.
Leva-me contigo,
num abraço, de mão dada.
É que eu sinto aqui uma  cidade triste,
um céu cinzento, sob um astro mudo
e vejo tantas portas franqueadas,
meu amor.

E tenho medo.

Leva-me contigo ao Maio.



AntónioFMartins

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