quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cavalito de Natal (Escrevendo acerca de tudo)

Cavalito de Natal
(Ao menino Jesus e aos meus pais)
(Escrevendo acerca de tudo)


Há muitos anos
quando eu era menino
não havia Pai Natal.
Era Jesus.
O Menino Jesus.
O Menino Jesus
e os meus grandes olhos
de espanto e de menino
e uns sapatos de verniz
a brilhar na chaminé
com flocos de branco algodão
caindo da pedra
e, no quarto,
recolhido e ansioso,
um coração pequenino
a pulsar de excitação
à espera do momento
em que o Menino,
numa suave aparição
ali deixasse, quem sabe,
aquele cavalito de cartão
e dos meus sonhos.

Há muitos anos
quando eu era menino
não havia Pai Natal.
Era Jesus.
O menino Jesus
e os meus pais
que eram os pais
de todo o ano
e do Natal.
Não havia Coca-Cola
no meu tempo de menino
e eram estreitas as chaminés
para tão grandes barrigas.

Numa noite de Natal,
nessa noite de Natal
ou eu estava mais atento
ou o Menino Jesus
fez de propósito
e eu ouvi, vindo da cozinha,
assim como que
um suave e distante urgido.

Estava ali
o Natal todo à minha espera.

Eu acho que ainda vi
uns pezitos pequeninos
subindo pela chaminé
até ao céu.
Mas, num irradiante gesto de carinho,
ali, segurando um cavalito de cartão
estavam os meus pais
e neles eu vi,
como num presépio
o Natal todo
a sair das suas mãos.

Era noite de Natal.

Era o Menino Jesus.
E os meus Pais.
E o meu Natal.



AntónioFMartins

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