domingo, 30 de agosto de 2015

Em Lisboa a passear Lisboas (Escrevendo e desenhando por Lisboa)

Em Lisboa a passear Lisboas
(Escrevendo e desenhando por Lisboa)



De colina em colina,
desde o Martim Moniz na Baixa,
o amarelo da Carris
leva todos os dias
Lisboa a passear Lisboas.

É o “28” que aqui vai,
já meio cansado
de descer
e subir tanta cidade,
deixando agora o Calhariz
para se fazer à empinada descida
da Calçada do Combro.

Até lá a baixo
é a luta titânica entre aço,
rodas e carris,
sempre a refrear o travão
e os ânimos de quem nele vai.

Já aqui se não ouve
o “pó-de-seguir”
que a crise levou de vez  o “pica”,
nem o façanhudo guarda-freios
resistiu à feminina era,
com ela repartindo
máquina,
carris e ruas de Lisboa.

Que importa,
se os carris, de igual modo
obedecem a um e a outro.

Leva-me, amarelo,
debruçado em cada uma
das tuas janelas
e mostra-me, inteiro,
o sedutor serpentear
dos teus caminhos
por Lisboa.

Espera-nos no final,
o Largo dos Prazeres.

É Lisboa.


AntónioFMartins

A luz e a cor do Porto (Escrevendo e desenhando pelo Porto)

A luz e a cor do Porto
(Escrevendo e desenhando pelo Porto)



Traço e traço,
apago, risco,
dou cor e faço
aos poucos
a cidade
que daqui vejo.

E daqui
eu vejo uma cidade
a nascer do Douro,
casa a casa
em alinhado desalinho,
umas a outras aninhadas,
encosta acima
onde telhados
cor de fogo,
uns sobre os outros,
espreitam
em curioso alvoroço
as águas e os rabelos,
os barcos
e as velas brancas
que passam
rio a cima
ou a caminho da foz,
para o mar.

Eu não sei
de quantas cores
se faz o Porto,
nem sei
quantas cores
me mostra a luz
do Porto.
Mas eu sei
que, como em Lisboa,
esta luz
que aqui se vê
é também
uma luz própria,
a encantadora
luz do Porto.

A luz e as cores
do Porto.


AntónioFMartins

Passeando por Lisboa (Escrevendo e desenhando por Lisboa)

Passeando por Lisboa
Um desenho de Lisboa para o meu amigo Manuel Rosas
(Escrevendo e desenhando por Lisboa)


Numa inesperada viagem,
aqui vou no "amarelo da Carris,
o 28", passeando por Lisboa,
de colina em colina,
com o meu amigo de Gondomar,
Manuel Rosas,
(o Manel, amigo feito na guerra,
 lá longe, há muito tempo)
sentados neste eléctrico
à janela de Lisboa.

A ver passar Lisboa.

(não vamos falar da guerra,
pois não, Manel?)

Pediste-me que te desenhasse Lisboa
e as cores e a luz e o encanto
que só Lisboa tem e eu quero
que as vejas passar por ti,
quero que as sintas
e que as guardes ternamente
nos teus olhos, uma a uma cada cor
e cada pedaço desta luz
e que, em cada rua te sintas
como num acolhedor porto
que te abriga.
Talvez o teu Porto, Manel.

As cidades são de quem delas gosta.

Vamos andando
(e tínhamos tanto para falar da guerra,
e de nós e da guerra e das nossas vidas e da guerra,
e da guerra. Daquela maldita guerra, Manel)

Calçada do Combro abaixo
chegaremos perto do Tejo.

Vamos, amigo.


AntónioFMartins

A Linha “1” (Escrevendo e desenhando pelo Porto)

A  Linha “1”
(Escrevendo e desenhando pelo Porto)


Aqui, ao Infante
chega
e daqui parte
a Linha “1”
que, sobre o aço polido
dos velhos carris,
desde o Passeio Alegre,
prazenteiramente
transporta e encanta
o viajante. 
Gosto de passear
assim
pelas cidades,
olhar rua a rua,
casa a casa,
uma janela aberta
par em par
e as pessoas
que vão ficando
para trás
a cada avanço
do eléctrico.

Eu gosto de ver
as cidades
da janela
de um eléctrico.

Agora, aqui,
quase à beira Douro
e com a foz tão perto,
já se dá pelo voar rasante
das gaivotas
e já a fresca brisa
do que resta do rio
traz um salgado salpico
de mar Atlântico.

Vou ficar por aqui
um pouco.

Talvez o eléctrico
de volta
não demore.


AntónioFMartins