Do Tejo vejo as Amoreiras
(Escrevendo e
desenhando por Lisboa)
Já vai alta a
maré,
galopando
cíclica e veloz, Tejo a cima,
passando os cais
de Lisboa uma a um,
até se espraiar
pleno na lezíria,
Ribatejo a
dentro.
Mas eu não vou.
Desta vez não
vou acompanhar-te, Tejo.
Fico por aqui,
de frente para uma cidade
que lá no cimo
do olhar não é a minha cidade.
Nasces do rio,
Lisboa, uma cidade perfeita,
arrumada, mesmo
que na desordem ordenada
do teu luminoso
e desalinhado casario
e, colina a cima
não se te vê defeito, só virtude.
Os espaços
certos dentro dos espaços certos,
os vazios, o
equilíbrio perfeito que, há muito,
os mestres
construtores da cidade,
como ninguém, te
souberam dar.
Agora, lá no
topo da colina
que é o bairro
das Amoreiras,
o tempo (e um
tal Taveira, rascunhador
de um abominável
reino dos abomináveis patos bravos)
fez-te espigar,
saliente e agreste como erva daninha
no cimo de um
bonito prado.
Vou ficar aqui,
Lisboa, olhando para ti
e, como uma
criança, fazer de conta que não vejo,
que não quero
ver lá em cima aquelas coisas.
AntónioFMartins
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