quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Rabelo-Douro vinhateiro (Escrevendo e desenhando pelo Porto)


Rabelo
Douro vinhateiro
(Escrevendo e desenhando pelo Porto)


Traço a traço,
traço as pedras
deste Porto,
uma a uma
e uma sobre a outra,
sustentadas
pelas fortes correntes
de um Douro
a caminho da foz
ou empurrado
pelas marés
chegadas do mar.

E é neste Douro,
já só rio, já só margens,
que daqui a pouco,
serenamente,
irei olhar um velho rabelo
a largar do cais de Gaia,
ufano no seu porte,
vela quadrada ao vento,
rangendo madeira e ferro
a um só tempo,
entre encostas e vinhedos,
subindo rio acima.

Vai rabelo,
daqui ao Alto Douro,
navegando pela mão firme do feitor
que, de pé chamando o vento,
na popa manobra o olhar e a espadela.
Não vá a calmaria pousar nas tuas velas
às margens reclamando ajuda
a quem, sem vento te arraste à força bruta
por paralelos caminhos de sirga.

Vai rabelo
e que o vento te encha a vela
e o vinho te encha os cascos.

Vai rabelo.
É preciso ir apanhar do Porto, o vinho,
ao Douro, no Douro mais acima.

E as cepas ainda estão tão longe.


AntónioFMartins


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