Aqui, no Douro d’ouro, em Gondomar
(Por solicitação
da Direcção do Clube Gondomarense,
a propósito das comemorações dos 110 anos da
sua fundação)
Aqui, no Douro
d’ouro,
em Gondomar,
onde em pequenas
ondas
que, brilhantes
e espaçadas,
o Douro me traz
sem que eu saiba
se são fios
entrançados na
maré
se lágrimas
d’ouro
que se estendem
Douro acima
entrando mansas
pela terra,
no meu peito,
até ao fino
rendilhado
de um
filigrânico coração,
aqui eu sinto
Gondomar.
Aqui eu sinto o
Homem
e o fogo e um
punção
nas suas mãos,
como que
garimpando
no mais fundo do
fundo
que o Douro tem
e sinto a arte,
toda a preciosa
arte
que com seus
finos dedos
uma mulher
vai tecendo no
detalhe
um coração
d’ouro,
em cada pormenor
preenchido pelas
águas
ondulantes deste
Douro.
E então,
num cais
imaginário,
ancestral,
como que num
mediterrânico
sonho
das distantes terras
de Roma ou de
Atenas,
eu amarro-me
nos fios d’ouro
e muita arte
e é aqui que o
Douro
e todas as
correntes
como entrançados
cordões
me prendem à
terra,
e um reluzente
coração
cujo bater eu
não domino
se funde e se
afunda
no mais profundo
do rio Douro
que o mesmo é
dizer:
por entre
os delicados
dedos
de um ourives
que no fundo da
alma,
Mestre d’ouro,
é ele mesmo,
o próprio Douro.
Aqui, no Douro
d’ouro,
em Gondomar.
E olha, amor,
quando já
cansado,
um dia
o meu coração
parar,
chora por mim
junto ao Douro
e deixa que as
tua lágrimas
por ele corram
e nele, por puro
amor,
em finos fios
d’ouro
essas lágrimas
se transformem.
E então,
que a mão
milagrosa
de um ourives,
por sagradas
artes
que são só suas,
me salve a vida
e que,
lançando ao
Douro
o meu velho coração,
transplante para
o meu peito,
em seu lugar,
a latejar de
brilho
e êxtase,
um magistral
coração
feito da mais
fina filigrana.
Aqui, no Douro
d’ouro,
em Gondomar.
AntónioFMartins
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