segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Aqui, no Douro d’ouro, em Gondomar (Poemas acerca de tudo)

Aqui, no Douro d’ouro, em Gondomar

(Por solicitação da Direcção do Clube Gondomarense, 
a propósito das comemorações dos 110 anos da sua fundação)


Aqui, no Douro d’ouro,
em Gondomar,
onde em pequenas ondas
que, brilhantes e espaçadas,
o Douro me traz
sem que eu saiba
se são fios
entrançados na maré
se lágrimas d’ouro
que se estendem
Douro acima
entrando mansas
pela terra,
no meu peito,
até ao fino rendilhado
de um filigrânico coração,
aqui eu sinto Gondomar.

Aqui eu sinto o Homem
e o fogo e um punção
nas suas mãos,
como que garimpando
no mais fundo do fundo
que o Douro tem
e  sinto a arte,
toda a preciosa arte
que com seus finos dedos
uma mulher
vai tecendo no detalhe
um coração d’ouro,
em cada pormenor
preenchido pelas águas
ondulantes deste Douro.

E então,
num cais imaginário,
ancestral,
como que num
mediterrânico sonho
das distantes terras
de Roma ou de Atenas,
eu amarro-me
nos fios d’ouro
e muita arte
e é aqui que o Douro
e todas as correntes
como entrançados cordões
me prendem à terra,
e um reluzente coração
cujo bater eu não domino
se funde e se afunda
no mais profundo
do rio Douro
que o mesmo é dizer:
por entre
os delicados dedos
de um ourives
que no fundo da alma,
Mestre d’ouro,
é ele mesmo,
o próprio Douro.

Aqui, no Douro d’ouro,
em Gondomar.

E olha, amor,
quando já cansado,
um dia
o meu coração parar,
chora por mim
junto ao Douro
e deixa que as tua lágrimas
por ele corram
e nele, por puro amor,
em finos fios d’ouro
essas lágrimas
se transformem.

E então,
que a mão milagrosa
de um ourives,
por sagradas artes
que são só suas,
me salve a vida
e que,
lançando ao Douro
o  meu velho coração,
transplante para o meu peito,
em seu lugar,
a latejar de brilho
e êxtase,
um magistral coração
feito da mais fina filigrana.

Aqui, no Douro d’ouro,
em Gondomar.


AntónioFMartins

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