Sonho-te Allouette
(Poemas da
guerra)
Quantas vezes,
ainda,
zoando-me de
longe,
o som metálico
das pás
de um
Helicóptero Allouette
me invade o sono
e aterra numa
improvisada clareira
aberta à força
bruta do machado
numa longínqua e
densa mata,
perdida agora,
no chão alcatifado
do meu quarto e
dos meus sonhos.
Não, já não há
rações de combate
a cair dos céus
em caixas de cartão.
Nem em sacos de
ansiosa saudade
caiem já do ar
as cartas, aerogramas,
agora, aqui, no
chão alcatifado
do meu quarto.
Agora que os
meus olhos
cansados da
guerra
já não
perscrutam, acordados
o longe do
horizonte,
só nos meus
sonhos perturbados
ainda me parece
ouvir, por aqui,
zoando-me de
longe
o som metálico
das pás
de um
helicóptero Allouette
que tantas vezes
aterra
nos meus sonhos.
Quantas vezes,
ainda,
zoando-me de
longe,
o som metálico
das pás
de um
helicóptero Allouette
me invade o sono
e me transporta
de novo para a guerra,
num voo rasante
de angustias
e tantos, tantos
medos.
E então, às
vezes, no destino do assalto
salto no ar e
num golpe de mão
agarro a mão de
minha mãe e acordo.
Emboscado e
sereno, protegido no seu colo.
E, sonhando, eu
sonho que sonho.
Ainda.
AntónioFMartins
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