segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Já não há fado em Santo Estêvão (Escrevendo e desenhando por Lisboa)



Já não há fado em Santo Estêvão
Ao Fernando Maurício, Fadista
(Escrevendo e desenhando por Lisboa)


De súbito
sonho uma gaivota
que me leva
em rasante voo,
de Santa Luzia
sobre os telhados
de Lisboa
e, suavemente,
me deixa
em Santo Estêvão. 

É aqui,
entre Alfama
e o Tejo,
no adro da Igreja,
que quero ouvir
o velho Maurício
cantar entre plangentes
gemidos das guitarras
e, em memória do local,
pedir mais uma vez,
na sua voz dolorida,
que ali se faça
o milagre sagrado.

Mas já não canta,
calou-se o Maurício.
Nem há já fadistas
que voltem
ao adro da santa igreja
e, a velha camaradagem,
partiu para outros lados,
já não há por aqui
quem a veja.

E é então
que a gaivota de novo
me acorda do sonho,
para noutro sonho
me levar de volta
a Santa Luzia.

De Alfama,
lá em baixo,
já não ouço o pregão
da varina
nem vejo já,
sequer,
a pontaria do ardina
desafiando, certeiro,
uma varanda
ou uma janela
entreaberta.

Já ali não vejo
a Alfama solidária
entre janelas
e até o meu amor
vai tendo já
cabelos brancos.

Já não há  Maurício,
nem já o fado se ouve
no adro, em Santo Estêvão.

Não me encontres mais,
gaivota,
que eu não torno
mais aqui.

Entre a mesma Lisboa
e o mesmo Tejo,
é outra, esta Alfama.



AntónioFMartins


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