Já não há fado em Santo Estêvão
Ao Fernando
Maurício, Fadista
(Escrevendo e
desenhando por Lisboa)
De súbito
sonho uma
gaivota
que me leva
em rasante voo,
de Santa Luzia
sobre os
telhados
de Lisboa
e, suavemente,
me deixa
em Santo
Estêvão.
É aqui,
entre Alfama
e o Tejo,
no adro da
Igreja,
que quero ouvir
o velho Maurício
cantar entre
plangentes
gemidos das
guitarras
e, em memória do
local,
pedir mais uma
vez,
na sua voz
dolorida,
que ali se faça
o milagre
sagrado.
Mas já não
canta,
calou-se o
Maurício.
Nem há já
fadistas
que voltem
ao adro da santa
igreja
e, a velha
camaradagem,
partiu para
outros lados,
já não há por
aqui
quem a veja.
E é então
que a gaivota de
novo
me acorda do
sonho,
para noutro
sonho
me levar de
volta
a Santa Luzia.
De Alfama,
lá em baixo,
já não ouço o
pregão
da varina
nem vejo já,
sequer,
a pontaria do
ardina
desafiando,
certeiro,
uma varanda
ou uma janela
entreaberta.
Já ali não vejo
a Alfama
solidária
entre janelas
e até o meu amor
vai tendo já
cabelos brancos.
Já não há Maurício,
nem já o fado se
ouve
no adro, em
Santo Estêvão.
Não me encontres
mais,
gaivota,
que eu não torno
mais aqui.
Entre a mesma
Lisboa
e o mesmo Tejo,
é outra, esta
Alfama.
AntónioFMartins
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