Negro destino
(Homenagem
aos mineiros de São Pedro da Cova)
Ouço
ainda, lancinantes,
os
angustiados silêncios
da
descida pelo poço,
em
jaulas de ferro e gente
e
marmitas de fome e medo
até
ao fundo da terra
em
busca do carvão.
Do
pão.
Por
ali desciam os vivos.
Por
ali subiam os mortos.
e,
então, se cumpria,
suado
e temerário
o
destino negro,
que
é como quem diz:
a
descida ao mais profundo
da
alma de um homem.
Da
infância de uma criança.
Ali
se cumpria,
profundo
e doloroso,
o
lado mais negro do destino
todos
os dias deixado
no
fundo da mina,
pendurado
nas sombras da escuridão
como
esquecidas ilusões,
vagueando,
negras e perenes,
por
entre o carvão
e
os sonhos.
Ali,
vindo do fundo negro da mina
ouço
ainda os negros sibilares
de
pulmões envenenados
pela
vertigem da sobrevivência
daqueles
para quem o pouco pão
sempre
rimou com o negro carvão.
Ali,
dia a dia se cumpriu também,
em
cada homem o destino de um menino
e,
nos dois, o destino de uma pátria.
Negro.
AntónioFMartins
Sem comentários:
Enviar um comentário